Um dia quando eu for for árvore abanarei os meus troncos e dançarei despenteada em dias de ventania.
Um dia quando eu for árvore, a minha pele feita tronco, feita casca abrigará pássaros, aranhas, musgos e liquens.
Um dia quando eu for árvore vou curvar-me para a terra agradecendo a sua imensa generosidade.
Um dia quando eu for árvore serei terra também, serei solo e minhocas, húmus e composto.
Um dia quando eu for árvore contarei histórias aos humanos, continuarei sua aliada e prolongarei a minha vida muito para lá do tempo.
Um dia quando eu for árvore sairei voando por aí feita semente, feita segredo assobiando e cantando, desabrochando em férteis flores, em viçosos rebentos.
Um dia quando eu for árvore irei desbravar o mundo em verdes fecundos construindo pontes e raízes, balançando-me entre o céu e a terra, entre rios e montanhas.
Um dia quando eu for árvore não morrerei nunca mais.