18 dezembro 2018

Teias de tempo

 
 Chuva que sobra na sombra das folhas.
 Se enreda em babas de aranha
 em gotas de luz
 teias onde os dias
 se tecem velozes
 e as noites se arrastam em lentas metamorfoses














Manhãs sorridentes
curtas, perforando
a pele do tempo
a pele das folhas
a nossa pele feita de tempo
que se desfolha e se esvai

 Luz lenta
matinal
obliqua
sussurrante
arrastando o dia para dentro da noite
a folha para dentro do chão
a matéria suspensa
espera

O tempo
deslizante
transforma
a pele
a folha
o dia
a noite
o tempo
curto
curto
as manhãs
sorridentes
a vida
efémera
fugaz
o jardim

29 janeiro 2018

Dias leves e limpos com sonos tranquilos em noites de luar

Acordar de manhã
Respirar fundo e deixar que o azul
limpo e leve
lave
entre em nós
preencha
chegue 
derrame luz  leve dos dias limpos


 Luz
sopro de nuvens
metamorfose
cortinas diáfanas
brisas deslizando no céu transparente


enquanto a lua não chega
cheia e segura
sem pressas
baloiçando entre pinheiros

A noite
essa
entrará sorrateira
enquanto as sombras se alongam
e o luar se espreguiça

09 janeiro 2018

A Salvia mais sedutora, resiliente e fotogénica do meu jardim.

 Sedutora, a mais sedutora de todas as plantas do jardim.
Instalou-se em frente ao vidro da porta que dá para o exterior.
Via-a nascer, curiosa, com o mistério guardado naquele botão quase, quase a desabrochar...

Ao longo das estações acompanho as metamorfoses da luz atravessando o que resta das flores
revelando pequenos cristais que se iluminam e cintilam nas manhãs de sol com luz oblíqua.


Faz-me companhia, obriga-me a levantar-me da cadeira do computador, agarrar na NiKon e deitar-me no chão, olhá-la de várias perspetivas.Click, click. A planta mais fotografada do meu jardim.


Desfolha-se descarada, devagar, uma pétala por dia, dependendo da brisa e fica ali suspensa deixando cair a pele velha. Temo pelo seu desaparecimento. Mas não, continua atravessando ventos e tempestades, estações quentes e frias.
Faz-me companhia esta princesa de cor indefinida entre o rosa e o lilás. E não tem nome?


 claro que tem, chama-se salva, qual delas não sei, são tantas, um dia destes vou perguntar-lhe ficar para ouvir a resposta. Oficinallis não é, elegans também não, hispanica ainda menos, a scalrea também é muito fotogénica mas as suas pétalas não tombam assim ....Também pouco me importa, sei que as folhas são cheirosas e que um dia destes irei fazer com elas uma infusão.



Gosto de a fotografar e tenho a certeza de que ela também gosta de ser fotografada, contemplada, ajeitada e acarinhada.Se ela soubesse como fica linda nas fotos. Um dia conto-lhe.


 

Já me disse o seu nome e já me deu a provar o doce néctar das suas flores.Salvia involucrata



07 janeiro 2018

Promessa de Inverno em árvores despenteadas





O vento corria, despenteava árvores  
Elas riam, rugiam, rangiam
quebravam galhos
gargalhadas sonoras



assobios
contorciam ramos
desafiavam nuvens que
passavam
pretas
pesadas
a galope no céu
prometendo
chuva
neve
granizo
prometendo o inverno.



05 janeiro 2018

Árvores de areia, o título poético de uma foto premiada do Luís Quinta.


 Árvores são poemas de areia, frágeis e fugazes como a vida, como o tempo que nos ondula os dias que nos modula os sentidos, que nos sussurra aos ouvidos velhas canções de embalar.


 Árvores são abraços que se agigantam e se agitam e imploram.

Ondas de areia e plástico

pó de estrelas
 A matéria de que são feitas todas as coisas:tempo e pó de estrelas cintilando na impermanência das estações.

florestas de areia e sal

vestígios 

rainha da impermanência

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